Fomos à festa de celebração de ano novo oferecida pela Sua Majestade Imperador Akihito, no Palácio Imperial.
Posso afirmar com total certeza que ainda não tive um dia de princesa (de verdade) na minha vida. O que eu achei que era, não é. E também não foi hoje... e cá entre nós, nunca será. Ainda bem! HAHAHA
Saímos de casa vestidos como manda o protocolo. Vestido longo para mim e roupa de pinguim para o Álvaro.
Começava às 14:30 e tínhamos que chegar entre 13:50 e 14:15. Como sempre, a organização japonesa faz com que você se esqueça da dimensão do evento e da dificuldade que deve ser planejar tudo isso. Todos os Embaixadores em Tóquio estão convidados. Se o Embaixador não está, deve mandar o Encarregado de Negócios. Isso significa que são mais de 180 carros entrando no mesmo lugar neste período de tempo.
Entramos e ficamos em um salão gigante num bate papo até que o pessoal do protocolo começa a organizar a entrada para cumprimentar o Imperador e sua família. A ordem é com base na precedência, ou seja, do Embaixador que está aqui há mais tempo entra primeiro, e por fim quem assumiu o cargo recentemente. A gente fica mais perto do fim da fila, já que tem gente que já está aqui há mais de 10 anos...
Enfim, estamos nesta sala conversando com outros Embaixadores quando de repente eu sinto uma super tontura. Ainda bem que eu me casei com um sismólogo. Do meu lado ele começa: "terremoto! terremoto! terremoto!". Logo entendi que não era tontura. Os quatro ou cinco lustres deste salão eram gigantes, deviam ter uns 4m x 3m e devem pesar mais do que um elefante cada um. Seis correntes de metal bem grossas prendiam cada um deles ao teto. Ver estes bichos balançando, é bastante assustador... Pensar o que poderia acontecer se eles caíssem, é pior ainda. O Palácio fez mais barulho do que eu imaginei que faria. O salão ficou em silêncio até que tudo voltasse ao normal. Só quando saímos ficamos sabendo que foi um terremoto de quase 7.0 graus! Forrrrte! E fazia tempo que eu não sentia, talvez porque moramos no segundo andar.
Voltando ao evento, chamaram país por país e cada casal ia saindo em direção a sala onde estava a Família Imperial. Este é o mapa deste protocolo:
Inclui uma meia reverência na entrada. Quando chamam seu país, você anda até o tapete central e faz uma reverência completa. Vira e pára na saída, para mais uma meia reverência e pronto. Acabou. Não são nem 10 segundos de "fama".
É engraçado que para muitos embaixadores, estes é um dos poucos dias no ano que se encontram com a Família Imperial (e para muita gente, isso significa muito). Para a gente, foi um ano bem fora do comum. Por termos chegado este ano e pela visita da presidente da Costa Rica, acho que vimos eles umas seis vezes. Já sinto como se fossemos velhos amigos! HAHAHA
Bom, mas foram nestes poucos segundos que eu tive uma epifania (meeeenos Tauli!!!). Percebi que nunca fui nem nunca serei uma princesa. Por quê? Simplesmente porque todas as princesas estavam do outro lado da sala, ao lado da Imperatriz. TODAS, incluindo a Imperatriz, estavam vestidas iguais, exatamente como são as princesas da Disney ou dos filmes de Hollywood. TODAS com um vestido branco destes meio bombom, e TODAS com uma tiara digna de uma princesa de verdade. E TODAS tiveram que estar aí em pé vendo os mais de 180 casais fazerem três reverências cada um. Divertido né?... NOT! Me fala, quem quer ser princesa?!? Eu morro de saudades das minhas chuteiras, essa é a verdade!
Saindo de lá, vamos para uma sala onde há grandes mesas postas, mas sem cadeiras. Cada um fica em frente a um obentô (a marmita japonesa), servem um saquê e brindamos o ano novo! Em seguida, os mordomos entram, e preparam nosso obentô para levar pra casa. Claro, com aquela delicadeza e o capricho japonês com as embalagens.
Quando vamos saindo, os carros já estão em ordem, na mesma ordem de precedência, e mais uma vez, não parece que são tantos carros e que tem tanta gente saindo em tão pouco tempo. Perfeição ao extremo!
Assim como o terremoto afeta tanto as princesas quanto os dragões, espero que este ano traga muita coisa boa para todos nós, reis ou vassalos. Feliz ano novo!!
Agora vamos jantar este obentô. Itadakimasu.