Thursday, February 13, 2014

Correios - ver para crer

Dia 24 de janeiro eu encontrei na minha caixa dos correios um envelope aberto, sem nada dentro. Parecia que a cola do envelope não tinha aguentado o peso do que estava dentro.

Escrevi para a remetente (uma amiga CISViana japonesa) contando o ocorrido. Ela contou o que tinha dentro: uma bandana e uns sabonetes do CISV Brasil que outra amiga mandou por ela, um cartão que ela colocou para nos parabenizar pelo nascimento da Aiko, e outras cositas.

Disse que tentaria reaver os objetos nos correios. Pediu para eu guardar o envelope caso fosse necessário. Não preciso dizer que eu já tinha perdido as esperanças e até escrevi para a amiga brasileira contando o que aconteceu.

Hoje, menos de três semanas depois, recebi um email da minha amiga e... um envelope dos correios com todos os objetos dentro!! Pasmem!!! Isso é vida. Como se não bastasse, veio também uma carta dos correios, pedindo desculpas pelo ocorrido (vide foto).

Minha amiga japonesa me escreveu e disse também estar orgulhosa da honestidade dos correios. Não é para menos...

Mais uma vez, seguem meus votos para que um dia o Brasil (e os brasileiros) sejam assim. Comecemos hoje, queridos amigos, a construir este Brasil.

Thursday, November 28, 2013

Sobre os mitos da gravidez...

O que me motivou a escrever este post foi o fato de estar fora do Brasil, convivendo com muitas grávidas de diferentes lugares e vendo que, cada pessoa, cada lugar, cada cultura, tem uma série de crenças e hábitos que muitas vezes são tomados como regra ou uma verdade absoluta a ser seguida.

Estar longe de "casa" me possibilitou questionar um monte destas coisas e, melhor de tudo, escolher qual a "verdade" que mais me interessava em cada momento destes nove meses.

Para quem não me conhece, vale esclarecer que eu não sou médica e que tudo o que estou falando não tem nenhuma base científica, e sim empírica.

Sushi e sashimi
Li muitos livros americanos, e acho que as informações no Brasil se aproximam mais à estas do que às asiáticas. Minha sorte é estar no Japão. TODOS os médicos com quem eu conversei (três que eu me lembre), não somente disseram que sushi e sashimi estavam liberados, mas reconfirmaram os benefícios e a importância de comer muito peixe (cru ou cozido) pelas proteínas, omega3, etc. Paraíso!!!! Tenho uma amiga no Brasil cuja médica me pareceu mais sensata: disse que obviamente não tinha problema comer sushi e sashimi, desde que nos restaurantes que já frequentava, evitando comer em lugares que não conhecesse e não soubesse da qualidade da comida. Afinal, um lugar onde normalmente comemos e nunca tivemos problemas, provavelmente não traria problemas. Infelizmente, acho que médicas como esta, são mais exceções às regras…

Banho de banheira, ofurô, onsen (águas termais)
De novo, os livros que passaram por mim sempre enfatizaram os perigos de um banho de banheira (por subir a temperatura do corpo, etc). No Japão, para quem não sabe, é parte da cultura tomar um banho de ofurô (banheira) todos os dias. O Japão também é conhecido pelos onsens (banheiras/piscinas com águas termais). Por isso, esta foi uma das primeiras perguntas para os meus médicos. Obviamente, as japonesas não deixam de usar os ofurôs ou onsens quando engravidam. Na minha aula de natação para gestantes, antes E depois da aula, todas ficavam conversando dentro de uma jacuzzi quente, uma delícia!!! Super relaxante. E depois do banho, outro ofurô! Segundo um dos meus médicos (japonês, que estudou no exterior e atende 90% das expatriadas em Tóquio) estar dentro da água quente não tem problema nenhum, já que não subirá a temperatura de todo o seu corpo a ponto de causar riscos ao bebê. Ele disse que muito antes de qualquer possível risco pra você, o seu corpo te avisa e pede pra sair (como acontece normalmente quando você entra num ofurô/onsen), e explicou a diferença entre isso e ter febre, por exemplo, quando a temperatura do seu corpo TODO sobe. Como boa amante de um ofurô, e mais ainda de um onsen, não preciso nem falar que em todas as oportunidades que tive eu estava dentro da água, aproveitando para relaxar. E o baby sempre adorou!

Bebidas alcoólicas
No Japão atual, as bebidas alcoólicas para grávidas também são socialmente evitadas. A geração dos meus pais (hoje com mais de 50/60 anos) viveu uma realidade diferente, com álcool presente na gravidez. Isso fez com que nos jantares onde amigas japonesas mais velhas estavam presentes, eu sempre fui meio bullied a tomar algo.
Aqui também há muitos australianos. Para quem não sabe, eles bebem muito e adoram cerveja e vinho mais do que muitas culturas que eu já conheci por aí. Uma australiana aqui até me contou que quando engravidou brigou muito com o marido porque queria tomar uma taça de vinho por semana e ele era contra. Ela pediu que ele fizesse uma pesquisa e ele logo relaxou, quando descobriu que permitiam (pelo menos na Austrália) uma dose de álcool POR DIA.
Sempre que tive vontade de tomar algo (geralmente saquê), tomei. Infelizmente, quase todas as bebidas alcoólicas me causaram muita queimação e azia. A única que não foi assim foi a boa e velha caipirinha. :-) Um copinho desta sim, eu aproveitei, numa feijoada com brasileiros. Eita delícia!!

Queijos moles/suaves
Os livros americanos também proíbem comer queijos moles, como brie, camembert, etc. Aqui não tem nada disso. Todos estão liberados. Acho que eu comi mais queijo (de todo e qualquer tipo) este ano do que em toda a minha vida.

Ovo cru
Para a minha sorte, este é outro produto liberado no Japão. Não preciso contar que minha gravidez foi movida a base de gemada. Devo ter comido pelo menos uma por quinzena. E muitos pratos da culinária japonesa usam ovo cru normalmente. De novo, relaxei e aproveitei.

Lista de compras para o bebê
Estou quase certa de que os brasileiros têm a maior lista de compras de cacarecos para o bebê de todo o mundo. hahaha Exageros à parte, recebi de muitas amigas listas de coisas que uma mãe "deveria comprar" para se preparar para a chegada do seu bebê. Fiquei assustada com as listas brasileiras: eram infinitas! E no Japão, além do fato de que muitas coisas nem existem, também não há espaço nas casas para tanta quinquilharia. Resolvi pedir outras versões. Americanas, australianas, japonesas… As japonesas ganham o record das listas mais enxutas. Tudo isso me fez reconsiderar muuuuuitos dos itens que estavam nas listas brasileiras. Vamos ver como será, mas algo me diz que não farão falta…

E para os que querem repensar ainda mais como fazemos o que fazemos, e ver que no final das contas, todos os bebês crescem felizes e saudáveis em diferentes partes do mundo, com diferentes costumes e tradições, dêem uma olhada neste documentário "Babies", que apresenta quatro bebês em quatro países diferentes: EUA, Japão, Mongólia e Namíbia. É um lindo exercício tentar se desapegar de algumas raízes tão profundas à algumas coisas tão banais.


Friday, November 15, 2013

Álvaro na TV japonesa

Dia 30 de setembro o Álvaro apareceu num programa na NHK (canal de TV japonês): Sarameshi.

Era uma matéria sobre o almoço dele. A maioria das pessoas imagina que, como Embaixador, ele tem um chef que cozinhe todas as refeições dele. A Embaixada até recebeu ligações depois de pessoas perguntando se a matéria era verdadeira ou se era armação da NHK…

Segue o programa:


Ninguém (ainda) questionou os talentos da esposa que, diferentemente de muitas mulheres japonesas, não prepara e manda uma marmita linda pra ele todos os dias...

E desde este dia, em diversos lugares e diversas cidades do Japão, ele é reconhecido por pessoas na rua. Até num dos nossos restaurantes preferidos em Tóquio, um dos chefs reconheceu ele do programa. Só não pediu para o Álvaro dar umas dicas de culinária, não sei porquê…

Thursday, October 17, 2013

Serviços de entrega no Japão: onde o seu tempo vale mais!

Faz dias que eu quero escrever sobre isso e esqueço. Acabo de receber outra encomenda, às 20:00, e resolvi que já não posso mais postergar.

A questão das entregas no Japão merece muito mais do que um post, e meu respeito, claro. Merece reconhecimento internacional!!! Estou para conhecer outro país que funcione assim...

Primeiro, vamos às vendas online. Estou ficando super mal acostumada. A Amazon Japão é meu novo vício. NUNCA esperei mais de 24 horas para receber algo que comprei online, com frete grátis!!! E claro, se você comprar pela manhã, chega no mesmo dia. Quando a Frévia estava aqui, compramos um sapato para ela às 11:00, repetindo: com frete grátis, e ele estava em casa antes das 15:00 do mesmo dia. Só mesmo vendo para crer... E não preciso dizer que não é só a Amazon, né?

Outra coisa que me surpreende é que sempre que recebo uma mercadoria e não estou em casa, me deparo com um bilhete dos correios ou da empresa de logística avisando que tentaram me entregar o pacote. Se for antes das 20:00, eu posso ligar para o entregador direto (o número está no papel) e arriscar meu japonês para acordarmos o horário para entrega ainda no mesmo dia.

Caso eu não queira fazer mímica por telefone, posso ligar para uma central (onde me atendem em inglês, seja dos correios ou de empresas privadas) e escolher o horário de entrega (podendo ser ainda para o mesmo dia). E aí entram os melhores detalhes: todos trabalham no final de semana e eu posso escolher o horário!!! As opções geralmente são mais ou menos estas:
1. Manhã (9:00 - 12:00)
2. Qualquer hora
3. 12:00 - 14:00
4. 14:00 - 17:00
5. 17:00 - 19:00
6. 19:00 - 21:00

Moral da história: nada de ficar o dia todo esperando algo em casa, refém das prestadoras de serviços. Esta consideração com o seu tempo também funciona quando vão arrumar qualquer coisa quebrada na em casa, instalar algo, etc. Fico lembrando quantas vezes no Brasil esperei algo/alguém para o dia X. Não vieram, e só quando eu liguei para reclamar me disseram que não deu e que "tentariam" no dia seguinte. Aqui, o tempo do consumidor é realmente mais valorizado.

Os serviços de entrega são tão bons que a maioria dos japoneses que viaja, usa estas empresas para que entreguem as malas em casa (ou no aeroporto). Ou seja, quando você está indo viajar agenda para que retirem suas malas em casa e mandem para o aeroporto. Ou quando chega de viagem, manda sua mala direto para casa. E aí, não precisa carregar nada no trem ou no ônibus. Claro, tudo com a garantia de que elas chegam no horário pré-determinado. Muita gente vai jogar golf ou até viajar dentro do Japão mesmo, e faz a mesma coisa com os tacos ou com a malinha, para não ter que se preocupar com nada no trajeto de ida e vinda.

Há uns finais de semana fomos viajar e esquecemos coisas no hotel. Eles nos mandaram, e eu paguei o frete aqui quando o pacote chegou, no dia seguinte.

Com um serviço assim, obviamente todas as empresas usufruem do sistema, e quem mais sai ganhando é o consumidor (no meu ponto de vista). Você pode basicamente ir a qualquer loja, supermercado, em qualquer lugar do Japão, comprar coisas (desde cacarecos até frutos do mar, congelados...) e mandar entregar em casa usando este sistema.


Tiro meu chapéu e continuo me surpreendendo todas às vezes que recebo algo. Só não faço todas as minhas compras online porque meu japonês ainda não permite, mas este é o maior dos incentivos para estudar mais.  

Saturday, September 7, 2013

Apresentação de taiko III

Esta foi minha apresentação de taiko de hoje, 7 de setembro. A terceira desde que eu comecei a fazer as aulas. A primeira, dia 9 de setembro de 2012, está neste link: apresentação I. A segunda eu nunca subi, acho que eu devo ter errado muito e achei melhor não publicar. hahaha


Monday, September 2, 2013

Partos no Japão

Com esta história do "parto real" inglês e por estar aqui, resolvi escrever um pouco sobre isso.

Como era de se esperar, aqui no Japão muita coisa é diferente.

Primeiro, durante o pré-natal você recebe um livro que parece um gibi. É o livro da "mãe e do bebê". É aí que todas as informações sobre a mãe, o pai e a gravidez vão estar registradas. Em todas as consultas pre-natais você tem que leva-lo e ele vai acompanhar o seu bebê até que tenha uns seis anos.

Você escolhe onde quer dar a luz e tem que fazer uma reserva com bastante antecedência (antes da semana 20), apesar de realmente não se saber a data exata do parto.

Quem paga Imposto de Renda aqui no Japão e conta com o seguro de saúde nacional japonês (o equivalente ao SUS), recebe do governo um reembolso que cobre grande parte dos gastos com o parto. As consultas pre-natais também são subsidiadas pelo governo.

Para o parto, há diversas opções que alteram o custo final, como ficar em quarto quádruplo ou individual. Você faz a escolha já sabendo o valor que receberá de reembolso.

Vivemos numa das regiões mais caras de Tóquio, bem centralizada e cheia de expatriados, o que encarece tudo o que está em volta. Um parto nos hospitais próximos, recomendados pelo médico, custa pelo menos uns US$13.000, e você fica no hospital geralmente 6 dias (no caso de parto normal; um pouco mais caso seja uma cesárea). Nestes dias a mulher aprende, com a ajuda de parteiras e enfermeiras, a cuidar do bebê, a amamentar, dar banho, etc.

Para dar uma idéia, na área onde moramos (tudo varia de lugar para lugar) o reembolso é de cerca de US$4.200. Isso se aplica para qualquer mulher que esteja grávida de pelo menos 85 dias (4 meses), mesmo que ela sofra um aborto espontâneo depois disso ou tenha um parto de natimorto.

Também tem outro tipo de suporte disponível durante a gravidez e os primeiros 60 dias pós parto. Ajudantes podem visitar a sua casa para cuidar da limpeza, cozinhar, cuidar dos trabalhos rotineiros. E o custo disso, mesmo na nossa área, é a metade do que cobra uma faxineira normalmente.

O índice de cesáreas no Japão é de cerca de 17%. Em algum momento, a Organização Mundial da Saúde chegou a mencionar que o índice aceitável de cesáreas de um país deveria ser de 15%. O Brasil hoje tem uma das taxas mais altas de cesáreas no mundo. Este mapa abaixo dá uma idéia da triste realidade:


Os hospitais japoneses não oferecem anestesia epidural (peridural) para partos normais.

Infelizmente eu não consigo ler jornais japoneses, mas duvido muito que eles publiquem qualquer informação sobre a Kate ter feito um parto normal e sem anestesia. Ou será que quando lêem algo assim pensem que a maioria das mulheres japonesas merecessem ser capa de jornal cada vez que dão à luz?

Tuesday, August 13, 2013

Aslfato novo no Japão


É, para nós brasileiros (e de muitas outras nacionalidades) que estamos acostumados às obras nas ruas que duram alguns meses ou até anos, ver como tudo funciona no Japão é muito impressionante!

Aqui em casa já tivemos algumas obras, trocas de tubulação de gás, de água, etc. E NUNCA ficamos um dia se quer com a rua aberta durante a noite. Todos os dias, os funcionários chegam às 9 da manhã e abrem um pedaço da rua. Trabalham até as 5 da tarde, e quando o dia termina, o asfalto está como se nada tivesse acontecido. Até as faixas estão pintadas, mesmo que temporariamente. No dia seguinte, abrem uma sessão na sequência do dia anterior, e esta parte será fechada antes de escurecer. 

Não preciso nem falar que a obra na rua toda (de uns 100 metros) foi toda feita em menos de duas semanas. 

No final, refazem todo o asfalto. E este trabalho só levou menos de dois (2!!!!!) dias, claro! Estas fotos são só do dia do asfalto final. Na primeira foto, vejam o carro amarelo na garagem, coberto com um plástico para protege-lo. Não, não foi o proprietário do carro que colocou...

Os cones separam a área para os pedestres, e em toda a rua alguns guardinhas te ajudam a fazer o percurso, garantindo a segurança. Ai se eles vissem nossas obras e o que nós chamamos de segurança... coitados! Acho que eles levariam cada um de nós pelas mãos, para garantir que a gente chegue do outro lado...

Eu fiz um vídeo deste dia do asfalto: dura uns 5' e mostra o processo que parece ser bem simples para uma leiga como eu. Me impressionou o trabalho em equipe, e como o processo flui sem parar. O resultado não poderia ser diferente: um asfalto novo e impecável em poucas horas.  

Obviamente, os funcionários não estavam entendendo porque eu estava interessada em algo tão banal. E eu não quis contar pra eles quanto tempo dura pra refazermos uma rua como esta no Brasil... 

Tuesday, July 23, 2013

Suicídios no Japão: 30,000 por ano.

Mais de 30,000 pessoas por ano se suicidam no Japão todos os anos. E o número só cresce, ano a ano. Mais de 80% dos suicidas são homens.

Infelizmente este documentário é só em inglês, mas é um ótimo estudo sobre os suicídios no Japão.

Muitas coisas curiosas, desde um manual de 200 páginas que "ensina" a cometer suicídio (e que já vendeu milhões de cópias e já teve mais de 20 edições) até a instalação de luzes azuis em estações de trem para diminuir a incidência de suicídios (com bons resultados!).

Se o vídeo não abrir aqui embaixo, segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=oo0SHLxc2d0&feature=player_embedded




Monday, December 10, 2012

Corinthians no mundo!!

Recebi estas fotos direto da fonte, do criador da campanha.

O Timão em Chelsea:





E em Nagoya:
Acabei de perguntar para a minha professora o que quer dizer esta frase no caminhão, em japonês, e ela disse: 
"A gente vai ter mostrar entusiasmo/loucura de verdade". 

本当の熱狂を魅せてあげよう 
(ほんとのねっきょうをみせてあげよう)

Apropriado... 

VAI CORINTHIANS!!!

Wednesday, December 5, 2012

Guia do Torcedor

Ontem me deparei com isso:


E depois de ver os vídeos sobre a saída do Corinthians de São Paulo, entendi o quão necessário ele é.

Acho que se existem culturas opostas, elas podem ser: a japonesa e a da Fiel. E confesso que me dá medo ver estas duas convivendo tão intensamente.

O Guia do Torcedor traz dicas de comportamento bastante simples, mas que são muito importantes e respeitadas pelos japoneses. A maioria dos brasileiros que visita o Japão, nem sabe que estas condutas existem.

Parecem ser detalhes "bobos", mas são justamente eles que garantem que uma cidade como Tóquio, muito maior e mais populosa que São Paulo, funcione como se tudo fosse ensaiado. Todo santo dia. Até mesmo em dias de emergência, como no dia do terremoto de março de 2011.

Acho que, para a gente, o equivalente a não se comportar desta maneira seria algo como imaginar muita gente chegando em São Paulo de repente e furando filas na maior cara de pau, arrotando na frente de todo mundo ou cuspindo no chão em qualquer lugar. Como se isso fosse "normal".

Espero que todos os torcedores que estão vindo tenham recebido um Guia destes e, claro, lido e estudado de cabo a rabo!

São comportamentos como estes do Guia do Torcedor que garantem muita coisa: a cidade sempre limpa, ordem, que as pessoas tenham seus direitos respeitados sempre, que tudo funcione sempre como deveria, e por aí vai... a lista é infinita!

Tem que vir ver para crer.




Tuesday, December 4, 2012

Vinhos, Princesa(s) e Thomas Lovejoy

Há um pouco mais de um mês fomos convidados para um jantar na residência da S.A.I. Princesa Takamado.

Era um evento petit-comité, em homenagem ao senhor Thomas Lovejoy, que estava aqui no Japão para receber o Blue Planet Prize. Este é um prêmio que reconhece esforços extraordinários em pesquisas e aplicações científicas que contribuem para a resolução de problemas ambientais globais.

Para quem não conhece o Sr. Thomas, ele é um super biólogo, que trabalha com a  Amazônia desde 1965, e foi quem introduziu o termo "biodiversidade" à comunidade científica nos anos 80. Entre outras várias iniciativas, ele também apoia o INBio (Instituto Nacional de Biodiversidade) na Costa Rica.

Entre os 20 casais convidados, os únicos Embaixadores eram o do Brasil e da Costa Rica.

Quando chegamos, a Princesa Takamado (que fala inglês e francês fluente) explicou que a idéia da noite era celebrar a reunião de amigos com vinhos especiais que ela tinha guardado. Ela possui muitas garrafas de safras especiais que "sobraram" e não são suficientes para um evento maior, mas que eram muito boas para uma noite de degustação como esta.

Entre os vinhos, ela tinha algumas garrafas de safras de anos que foram especiais para ela, como uma de 1954 (ano de nascimento de seu marido, o falecido Príncipe Takamado).

Também tinha um vinho de 1979, outro ano importante para a humanidade. Ano este em que, do outro lado do mundo, nascia outra princesa: Tauli Furuiti.

Mas o especial mesmo, chegou no final da noite. Um vinho do Porto de 1875. O Álvaro pediu para tirar uma foto:

Não preciso nem falar que eu cheguei em casa trilili depois de provar tantos vinhos, né?

Ah, e na saída eu me deparei com uns arranjos de flores ma-ra-vi-lho-sos. Acho que só os japoneses mesmo para fazer isso...

E a Princesa Takamado me contou que eles são feitos para decorar a Garden Party (em março). No ano que vem vou prestar mais atenção nestes detalhes...

Lindos não?













Thursday, November 15, 2012

Asfaltofone

Mais um post da série: por que não podemos ser assim?

Esta pergunta eu me faço VÁRIAS vezes por dia,  TODO santo dia aqui no Japão: por que a gente não pode ser como os japoneses?

Descobri que o asfaltofone foi inventado na Dinamarca. Tem alguns aqui no Japão. Passamos por dois em uma estrada em Kanazawa, e no segundo eu estava preparada para gravar.

Ele é feito com pequenas "ranhuras" no asfalto que quando o carro passa por elas a vibração faz barulho (igual as que fazem BRRRRRRRRRRR em algumas curvas das estradas brasileiras ou quando estão raspando o asfalto). São "posicionadas" em diferentes distâncias umas das outras, de forma a tocar uma música quando você passa por cima.

Então se você dirige na velocidade permitida, a música toca no ritmo certo. Isso é uma motivação extra para que os motoristas respeitem a velocidade.

Adorei!!!




Sunday, November 11, 2012

Sua Santidade o Dalai Lama

Confesso que eu estou longe do desapego material, porque o que eu mais queria era trazer ele pra casa com a gente... Um senhor tão carismático! Tão fofo!!! Deu vontade de abraçar e apertar forte...

Fomos convidados para participar desta conversa entre S.S. o 14o Dalai Lama e cientistas japoneses. Aceitamos e recebemos ingressos para as quatro sessões. Todas foram no salão de um dos hotéis mais tradicionais e renomados de Tóquio que, obviamente, esteve sempre lotado. Pelos meus cálculos, cabia umas 1.500 pessoas e cada ingresso valia US$ 150.  
Umas 50 filas de 30 cadeiras

Em algumas sessões os cientistas falaram demais e o Dalai Lama de menos. Na última ele falou bastante, e é muito gostoso ouvir o que ele tem para dizer. Acho que o mundo seria um lugar melhor se mais gente seguisse os ensinamentos dele (budismo tibetano). 


Ele falou que a paz não virá através das guerras, armas e de resoluções internacionais, mas sim da paz interior de cada indivíduo. Tendo uma mente pacífica podemos resolver qualquer conflito através de meios pacíficos. Que isso não significa a ausência de raiva, mas é preciso ter inteligência para analisar nossas emoções. Ter uma mente pacífica é algo que se aprende e, na opinião dele, educar para isso é a prioridade do mundo de hoje. 

Disse que a religião nunca será universal, e que a paz não é resultado de oração, mas de ação! 
Viseira, por causa dos holofotes
Que os desentendimentos devem ser transformados através do diálogo e do respeito.

Também falou que a geração dele tem que estar se despedindo do mundo e passar a bola para as novas gerações que, por sua vez, têm a responsabilidade de criar um mundo pacífico. Temos que educar as novas gerações sobre a importância de uma mente pacífica, através do amor e da compaixão, que é o caminho para uma vida feliz. E como ele mesmo disse: desenvolver a compaixão não tem efeitos colaterais.

Quando tocaram no tema da reencarnação ele falou que era irrelevante discutir a vida após a morte. Na vida, tudo tem seu começo e seu fim. E o que tem real importância é o que você faz em vida. 

Foto de Alvaro Cedeno
Todos estes conceitos e a maneira dele de pensar são mais claros para quem já leu o livro dele: "A Arte da Felicidade - Um Manual Para a Vida". Se você ainda não leu, compre djá! Faz bem para qualquer um.

Estávamos na primeira fileira, bem em frente à escada que dava acesso ao palco. Na saída, ele desceu e parou na nossa frente. Deu uma mão para o Álvaro, outra para mim e perguntou de onde éramos. O representante no Japão do Governo do Tibet no Exílio  apresentou o Álvaro como Embaixador da Costa Rica. O Dalai Lama disse: "Ah, Costa Rica!", com um sorriso no rosto. 

É por experiências como esta que o dia a dia de Embaixatriz vale à pena. 





Tuesday, November 6, 2012

Bazar e a vida de Embaixatriz

Este é mais um capítulo de sobre a vida de uma Embaixatriz...

O bazar acontece no começo de novembro, todos os anos. Organizado pela Associação de Damas Nipo-Latino Americanas, tem o objetivo de trazer um pouco da cultura dos nossos países para Tóquio e ao mesmo tempo arrecadar fundos para apoiar projetos em cada um dos países que participam do evento.

A organização é composta por todas as Embaixatrizes latino-americanas e a parte japonesa: esposas de diplomatas, deputados, políticos, etc. Vocês podem imaginar estas reuniões... Para mim, são eternas e bem sofridas.

Antes do bazar, cada Embaixada tem que vender pelo menos 100 ingressos, cada um a US$ 25. No dia do evento, cada país tem uma mesa de artesanatos e outra de comidas típicas. Uns 4,000 japoneses vão ao bazar para ver, provar e conhecer um pouco destes países.

A teoria é muito bonita, mas para quem tem que organizar, é muito trabalho para um evento que poderia ser muito melhor em diversos aspectos. Mas como eu não estou disposta a enfrentar esta batalha, fica por isso mesmo. Mudanças não são bem vindas nem na cultura japonesa e nem na diplomacia.

Participamos porque não temos  alternativa. E obviamente, eu participo representando a Costa Rica, inclusive cozinhando pratos típicos. hahaha Seria cômico se não fosse trágico...

A presidente honorária da organização é a S.A.I. Princesa Hitachi (com chapéu branco nas fotos). Ela é casada com S.A.I. Príncipe Hitachi, irmão mais novo do atual Imperador. Ela tem (pasmem) 72 anos e está super em forma! Muitas japonesas no evento estavam comentando sobre as batatas da perna da Princesa. Realmente eu nunca vi tantos músculos definidos na batata da perna de ninguém, ainda mais de alguém desta idade!

Estas são as fotos da chegada dela ao evento. Todos os Embaixadores e Embaixatrizes presentes esperam pela Princesa em fila, seguindo a ordem de precedência no Japão. Do meu lado esquerdo, a Embaixatriz do México.

Passei todo o mês de outubro preparando e cozinhando para este evento. E tem gente que acha que eu é que vivo uma vida de princesa...


Sunday, October 28, 2012

Xintoísmo - filosofia de vida

shintō
É um conceito muito interessante e muito difícil de ser explicado. Oficialmente, é uma religião e a principal do Japão. Mas é muito mais que isso: é uma fé, uma filosofia de vida. Para os japoneses é um costume, uma tradição.

O xintoísmo nasceu aqui no Japão há milhares de anos, antes mesmo do budismo chegar aqui da China no século VI. E se você perguntar o que é xintoísmo para 20 japoneses, provavelmente terá 20 respostas diferentes.

O conceito é tão vago e ao mesmo tempo tão intrínseco da cultura japonesa que é muito difícil definir e separar exatamente um do outro. Faz parte de todo japonês. Até dos cristãos ou ateus. Chamar de religião é limitar o significado.

O xintoísmo se confunde muito com o budismo, e acho que a melhor diferenciação que eu ouvi foi: o budismo lida com a morte e o xintoísmo lida com a vida. Não é a toa que os rituais de passagens dos japoneses geralmente são:
- quando nasce um bebê, a família vai ao santuário xintoísta para abençoa-lo;
- se casam numa igreja cristã ou num santuário xintoísta;
- funerais são feitos em um templo budista.

Uma maneira fácil de saber se você está num santuário, é ver se existe um torii na entrada.


Já dá para começar a entender a complexidade da coisa. Em nenhum outro lugar do mundo eu vi tamanha mistura entre diferentes "religiões".
torii na escalada do Monte Fuji

Xintoísmo significa "caminho dos deuses" e possui as seguintes características:
- Adoração a "divindades";
- Politeísta;
- 3 "nãos": não tem um fundador/criador, não tem uma escritura e não tem uma doutrina a ser seguida.

Para entender o xintoísmo é preciso entender o que são os deuses ou divindades para os japoneses. Eles consideram como deuses/espíritos divinos o poder divino e misterioso de todas as coisas vivas, então quase tudo pode ser uma divindade. Montanhas (ex: Monte Fuji), mares, florestas, rios, ventos, etc. Tudo isso tem vida, e um poder que o homem não controla. Todos são deuses.

E melhor, nós humanos também podemos ser adorados e podemos virar deuses depois da morte. Os japoneses acreditam que nossos ancestrais nos protegem. E para isso, continuam adorando e cuidando deles como guardiões, como parte da família.

shinto priest vestido para cerimônia
O xintoísmo é super flexível. Ninguém te fala o que você tem que fazer ou não, o que é certo e o que é errado. O padre (que é uma pessoa normal, que vive uma vida normal, exatamente como qualquer um de nós, pagam impostos, etc) disse que "ninguém precisa te dizer que matar outra pessoa é errado para que você saiba que é". E, ironicamente, no nosso lado do mundo tem gente que repete isso todos os dias e continuamos nos matando. Em compensação aqui, ninguém fala, e ninguém mata ninguém!

Os santuários xintoístas nada mais são do que a "casa dos deuses". Existem 80.000 registrados no Japão, mas acham que há mais de 100.000 no total, incluindo os pequenos e independentes. Na verdade, qualquer um pode ter um santuário, até mesmo dentro de casa, então realmente o número deve ser imenso. Minha avó tinha um santuário dentro do quarto dela e todos os dias ascendia um incenso e fazia seu agradecimento, sua reza.

torii na entrada do Meiji Jingu
O xintoísmo também vem acompanhando as mudanças do Japão, abraçando a modernidade, mudando junto com as pessoas. Por exemplo, o Meiji Jingu (um dos maiores e mais famosos santuários em Tóquio e um destino turístico imperdível) foi criado em 1920 para entesourar o Emperador e a Imperatriz Meiji. Ele foi o responsável por revolucionar, reformar e renovar o Japão, e em grande parte por fazer do Japão a pontência que é hoje, social e economicamente.

Entender melhor o xintoísmo me ajudou a entender também a maneira como os japoneses lidam, por exemplo, com tsunamis, terremotos, e até com a morte. Eles já foram atingidos milhares de vezes e sabem que vai acontecer outra vez. Acho que é justamente por encarar tudo isso como parte da vida, como manifestação dos deuses, é que eles aceitam estes fatos sem maiores dramas. A vida como ela é.

Também acho que é justamente por este respeito maior por estes deuses "naturais" e vivos, é que o Japão tem 70% do seu território coberto por bosques e florestas. São representações das divindades. Os japoneses estão preocupados em como lidamos com a natureza, com o impacto que temos no meio-ambiente. Na apresentação sobre xintoísmo mostraram um vídeo que trazia um texto/poema e dizia: "uma folha cai no chão e vira terra, pra virar árvore e folha outra vez". Tão simples, mas mesmo assim parece que tanta gente ainda não sabe né?

Outra coisa que ficou clara para mim é que nem tudo no mundo precisa de uma explicação racional para existir. Tem coisas que simplesmente existem. Ponto. O xintoísmo é um bom exemplo disso. Existe há milhares de anos e super presente no cotidiano dos japoneses.

Tudo isso me fez pensar em como seria o mundo se, o ao invés dos valores e das morais cristãs por exemplo, tivéssemos o xintoísmo como filosofia de vida?