Mais um post da série: por que não podemos ser assim?
Esta pergunta eu me faço VÁRIAS vezes por dia, TODO santo dia aqui no Japão: por que a gente não pode ser como os japoneses?
Descobri que o asfaltofone foi inventado na Dinamarca. Tem alguns aqui no Japão. Passamos por dois em uma estrada em Kanazawa, e no segundo eu estava preparada para gravar.
Ele é feito com pequenas "ranhuras" no asfalto que quando o carro passa por elas a vibração faz barulho (igual as que fazem BRRRRRRRRRRR em algumas curvas das estradas brasileiras ou quando estão raspando o asfalto). São "posicionadas" em diferentes distâncias umas das outras, de forma a tocar uma música quando você passa por cima.
Então se você dirige na velocidade permitida, a música toca no ritmo certo. Isso é uma motivação extra para que os motoristas respeitem a velocidade.
Confesso que eu estou longe do desapego material, porque o que eu mais queria era trazer ele pra casa com a gente... Um senhor tão carismático! Tão fofo!!! Deu vontade de abraçar e apertar forte...
Fomos convidados para participar desta conversa entre S.S. o 14o Dalai Lama e cientistas japoneses. Aceitamos e recebemos ingressos para as quatro sessões. Todas foram no salão de um dos hotéis mais tradicionais e renomados de Tóquio que, obviamente, esteve sempre lotado. Pelos meus cálculos, cabia umas 1.500 pessoas e cada ingresso valia US$ 150.
Umas 50 filas de 30 cadeiras
Em algumas sessões os cientistas falaram demais e o Dalai Lama de menos. Na última ele falou bastante, e é muito gostoso ouvir o que ele tem para dizer. Acho que o mundo seria um lugar melhor se mais gente seguisse os ensinamentos dele (budismo tibetano).
Ele falou que a paz não virá através das guerras, armas e de resoluções internacionais, mas sim da paz interior de cada indivíduo. Tendo uma mente pacífica podemos resolver qualquer conflito através de meios pacíficos. Que isso não significa a ausência de raiva, mas é preciso ter inteligência para analisar nossas emoções. Ter uma mente pacífica é algo que se aprende e, na opinião dele, educar para isso é a prioridade do mundo de hoje.
Disse que a religião nunca será universal, e que a paz não é resultado de oração, mas de ação!
Viseira, por causa dos holofotes
Que os desentendimentos devem ser transformados através do diálogo e do respeito.
Também falou que a geração dele tem que estar se despedindo do mundo e passar a bola para as novas gerações que, por sua vez, têm a responsabilidade de criar um mundo pacífico. Temos que educar as novas gerações sobre a importância de uma mente pacífica, através do amor e da compaixão, que é o caminho para uma vida feliz. E como ele mesmo disse: desenvolver a compaixão não tem efeitos colaterais.
Quando tocaram no tema da reencarnação ele falou que era irrelevante discutir a vida após a morte. Na vida, tudo tem seu começo e seu fim. E o que tem real importância é o que você faz em vida.
Foto de Alvaro Cedeno
Todos estes conceitos e a maneira dele de pensar são mais claros para quem já leu o livro dele: "A Arte da Felicidade - Um Manual Para a Vida". Se você ainda não leu, compre djá! Faz bem para qualquer um.
Estávamos na primeira fileira, bem em frente à escada que dava acesso ao palco. Na saída, ele desceu e parou na nossa frente. Deu uma mão para o Álvaro, outra para mim e perguntou de onde éramos. O representante no Japão do Governo do Tibet no Exílio apresentou o Álvaro como Embaixador da Costa Rica. O Dalai Lama disse: "Ah, Costa Rica!", com um sorriso no rosto.
É por experiências como esta que o dia a dia de Embaixatriz vale à pena.
Este é mais um capítulo de sobre a vida de uma Embaixatriz...
O bazar acontece no começo de novembro, todos os anos. Organizado pela Associação de Damas Nipo-Latino Americanas, tem o objetivo de trazer um pouco da cultura dos nossos países para Tóquio e ao mesmo tempo arrecadar fundos para apoiar projetos em cada um dos países que participam do evento.
A organização é composta por todas as Embaixatrizes latino-americanas e a parte japonesa: esposas de diplomatas, deputados, políticos, etc. Vocês podem imaginar estas reuniões... Para mim, são eternas e bem sofridas.
Antes do bazar, cada Embaixada tem que vender pelo menos 100 ingressos, cada um a US$ 25. No dia do evento, cada país tem uma mesa de artesanatos e outra de comidas típicas. Uns 4,000 japoneses vão ao bazar para ver, provar e conhecer um pouco destes países.
A teoria é muito bonita, mas para quem tem que organizar, é muito trabalho para um evento que poderia ser muito melhor em diversos aspectos. Mas como eu não estou disposta a enfrentar esta batalha, fica por isso mesmo. Mudanças não são bem vindas nem na cultura japonesa e nem na diplomacia.
Participamos porque não temos alternativa. E obviamente, eu participo representando a Costa Rica, inclusive cozinhando pratos típicos. hahaha Seria cômico se não fosse trágico...
A presidente honorária da organização é a S.A.I. Princesa Hitachi (com chapéu branco nas fotos). Ela é casada com S.A.I. Príncipe Hitachi, irmão mais novo do atual Imperador. Ela tem (pasmem) 72 anos e está super em forma! Muitas japonesas no evento estavam comentando sobre as batatas da perna da Princesa. Realmente eu nunca vi tantos músculos definidos na batata da perna de ninguém, ainda mais de alguém desta idade!
Estas são as fotos da chegada dela ao evento. Todos os Embaixadores e Embaixatrizes presentes esperam pela Princesa em fila, seguindo a ordem de precedência no Japão. Do meu lado esquerdo, a Embaixatriz do México.
Passei todo o mês de outubro preparando e cozinhando para este evento. E tem gente que acha que eu é que vivo uma vida de princesa...